Influência das emoções

Amigos,
Estávamos conversando aqui na mesa e eu comentava com eles que, quando eu tinha 15 anos, lá na Comunhão Espírita, o dr. Bezerra de Menezes, aliás, ele, não, o seu Eurípedes Barsanulfo, através da mediunidade de dona Irene Carvalho, começou a conversar comigo. E ele me disse:
– Ah, minha filha, você sabe, você não é endividada com A, B, ou C…

(E eu, com 15 anos, vocês imaginam, né?… Já fiquei toda satisfeita: “Ai, meu Deus, que bom, não tenho dívidas!!!”). E aí ele, muito naturalmente, continuou:
– Não, minha filha, você não é endividada com A, B, ou C: você é endividada com a massa!!! Onde você for, lá no fim do mundo, vai ter gente para te ouvir.. .
E é verdade!
Então eu comentava aqui na mesa: às vezes, eu vou lá num centro pequenininho, escondidinho, lá longe, no frio… e aí, quando chego lá, o presidente do centro logo me diz: “engraçado… nunca vem tanta gente aqui. Tem gente até de pé!”

Aí eu já vou logo explicando: “O senhor sabe: o problema sou eu. O senhor pode ter certeza: isso não vai se repetir outras vezes, não. Minha dívida é com a massa… com todo mundo! Por isso que vem todo mundo…”.
Mas, nisso, coisas mais lindas já aconteceram comigo, nesse encontro. Por exemplo: certa feita, em Planaltina, aqui no DF, um senhor, na saída do centro onde eu estava, muito humilde, cheirando, inclusive, a álcool, chegou perto de mim e disse: – a senhora podia me dar um abraço?…
Eu o abracei… E ele me disse: – eu moro na rua. Hoje, não sei por que, me deu uma vontade de entrar aqui neste centro!… e tudo o que a senhora falou foi para mim.

E depois disso eu fiquei pensando: “meu Deus do céu, os nossos compromissos nos aguardam em toda parte!”
A Doutrina Espírita é algo tão extraordinário que, se nós, verdadeiramente, pensássemos em todo o conhecimento e esclarecimento que ela nos traz, perceberíamos que, em verdade, ainda não estamos fazendo muito em favor de nós mesmos e da humanidade, tamanha a responsabilidade que temos, por esse conhecimento que veio até nós.

Não importa a idade que tínhamos quando a Doutrina Espírita surgiu em nossas vidas, porque, com certeza, ela nos veio em um momento decisivo – embora, muitas vezes, um momento decisivo seja mesmo um momento de dor.
Observei a semelhança entre a mensagem lida na abertura da reunião, a página do Evangelho também lida e aquilo que os espíritos amigos me sugeriram comentar hoje aqui, com vocês: as nossas emoções prejudicando ou fortalecendo a nossa saúde física, mental, espiritual; e o quanto elas nos afetam, o quanto as nossas atitudes, que nascem das nossas emoções, afetam o nosso psiquismo.

André Luís, em suas obras, nos lembra muito isso. Ele, que havia sido médico na Terra, quando no mundo espiritual percebeu que muitas das enfermidades que ele nunca pudera curar estavam intimamente ligadas ao passado espiritual das pessoas que ele havia examinado e, principalmente, à continuidade das emoções e dos pensamentos reiterados, muitos deles negativos.
Há pessoas que se cristalizam em suas emoções (e quantos de nós já não vivenciamos situações assim?! Situações em que sentimentos, lembranças que o tempo não nos faz esquecer vão nos minando por dentro…).

Um dia, dizem os espíritos, a Medicina saberá tanto disso, da influência dos sentimentos e das emoções em nossa saúde, que nenhum médico, de nenhuma especialidade, cuidará de nós sem cuidar antes daquilo que sentimos, das nossas emoções e dos nossos sentimentos.

Em 1942, Humberto de Campos psicografou, através da mediunidade de Chico Xavier, um livro chamado “Reportagem de Além-Túmulo”. No capítulo 4 do livro, intitulado “Espíritos Protetores”, Humberto nos conta a história de Jehul, um espírito altamente iluminado, que morava já muito distante da Terra e que é chamado, pela espiritualidade superior, para saber de Laio, um espírito amado por ele, que já tinha inclusive sido filho dele em várias experiências na Terra, quando ele ainda reencarnava na Terra – porque Jehul já havia saído do processo de reencarnação. Pelos espíritos amigos Jehul vem a saber que Laio, aquele ser amado do seu coração, permanecia necessitando voltar à Terra para novas experiências. E, claro, Jehul, alma nobre que era, via qualidades em Laio que nem o próprio Laio percebia que poderia ter.

Jehul não estava mais sujeito ao processo reencarnatório na Terra, mas, ao saber que Laio reencarnaria, tem ciência de que ele poderia também, se quisesse, vir a ser, na matéria, o pai de Laio, como já havia acontecido em encarnações anteriores. Jehul, então, volta à Terra, mas decide que, agora, viria na condição de mentor invisível de Laio.

Nos primeiros anos, na infância, Jehul consegue influenciar sobremaneira os pais de Laio, sobre a educação a ser dada ao pequeno ser. E aí me recordo: todos nós sabemos que, quando uma criança renasce no seio de uma família, dos zero aos sete anos os mentores espirituais daquela criança mudam-se para o seu lar, e só quando a criança completa sete anos – e o processo reencarnatório está, portanto, concluído – é que ela é, em definitivo, entregue aos seus pais, aos seus pais materiais.

Ora, muitas crianças desencarnam antes disso. Podem ser suicidas do passado. Podem ser almas que vêm para cumprirem o pequeno tempo que lhes faltara naquela vida em que, voluntariamente, sacrificaram a própria existência.

E, é claro, o sofrimento dos pais é tremendo. Quem já perdeu um filho sabe disso: a perda de um filho é a única dor para a qual não há explicação, não há palavras… mas, muitas vezes,aqueles pais que vêem partir o filho tão pequeno podem ter sido os comparsas de ontem, aqueles que participaram do gesto tresloucado de um suicídio… Então aquela criança que tem um resgate a fazer não virá como o “filho do vizinho”, mas virá exatamente como filho daquele casal que terá também de passar por aquela provação, porque tem aquele compromisso a resgatar.

Jehul, então, nos primeiros anos de vida de Laio na Terra, consegue fazer com que os pais inoculem no menino, no seu coração, muitos bons sentimentos. Mas, quando chega a mocidade, para sua tristeza, Jehul percebe que as tendências de vidas anteriores renascem no coração de Laio: ele começa a enganar os pais com mentiras, começa a considerar os pais ridículos, começa a fugir de todo compromisso… Começa a pensar que os pais tinham dinheiro, mas que não iam viver para sempre, que ele iria herdar tudo aquilo… Então, por que se esforçar, por que estudar?!

De todas as maneiras Jehul começa a promover acontecimentos na vida de Laio, com a permissão da espiritualidade superior, para despertá-lo para o Bem, mas, quanto mais era chamado à atenção, pela vida, para se voltar para uma existência correta, mais Laio fugia disso… E Jehul, pobre mentor, tentava, de todas as maneiras, justificar as atitudes de Laio: “quando ele ficar mais velho, mais maduro, quando ele se casar”…

Então Laio começa a, secretamente, dilapidar o patrimônio do pai. Começa a, de tal maneira, ser grosseiro com a mãe, que ela adoece de emoção, por perceber que o filho, apesar de todos os exemplos, estava se saindo o contrário do que ela e o marido imaginaram…
Quando o pai de Laio morre, ele assume tudo o que ele havia lhe deixado. Casa-se, mas não porque gostasse da jovem, mas porque era interessante para ele aquele casamento. Tem três filhos e, quando os filhos nascem, seu mentor Jehul pensa: “ah, agora ele vai reencontrar, no próprio coração, a emoção equilibrada que vai fazer com que ele não perca esta existência…”.

Qual nada. Laio desprezava os filhos, e a esposa tinha de absorver toda aquela emoção, tornando-se pai e mãe, ao mesmo tempo, daquelas três crianças que tinham vindo do espaço compromissadas com o pai que tiveram, mas que estavam absolutamente órfãs da sua atenção, do seu respeito, do seu carinho.
Jehul percebe, então, que a idade adulta traria problemas ainda maiores para Laio e pede à espiritualidade maior que lhe surgisse uma enfermidade não fatal, mas séria, para ver se ele, enfim, cairia em si. Mas o que acontece é que ele, ao contrário do que o seu mentor imaginara, torna-se então um revoltado: “eu tenho dinheiro!”, dizia, “tenho dinheiro para superar tudo, para comprar todos os atestados médicos possíveis!!!”.

A doença torna-se mais séria – até por conta das suas emoções desenfreadas. E Laio, então, vê-se obrigado a deixar o trabalho. Mas, até para deixar o trabalho, busca fazê-lo trazendo para si todas as vantagens inimagináveis: arranja milhões de atestados falsos para sair do emprego – onde, na verdade, nunca se esforçara de verdade – e, inclusive, busca caluniar seu antigo diretor, para haurir ali todas as benesses a que ele, absolutamente, não teria direito.
Jehul, seu mentor, não desiste: já que a doença e a quase invalidez de nada adiantaram, pede, então, que a velhice surgisse precocemente a Laio. Pede que sua cabeça ficasse totalmente branca de repente: “quem sabe aí seus pensamentos não retornariam para o positivo?”…

Mas, foi pior. Laio tornou-se um velho irascível, horroroso, malvado, daqueles que todo mundo detesta… Os filhos corriam dele, a esposa chorava o tempo todo, os vizinhos o evitavam… e o dinheiro acabou. Tudo ficou pior ainda, porque, a partir daí, ele passou a se considerar um esquecido de Deus. E, um dia, para a surpresa de Jehul, entram alguns espíritos no quarto para desligarem Laio do corpo físico, através da morte.

Jehul ainda tenta argumentar, mas isso não mais lhe é possível: o espírito protetor que ali chegara tinha ordens expressas de retirar Laio do corpo, porque ele jamais conseguira, em verdade, em toda uma existência, aproveitar tudo o que a vida lhe proporcionara. E suas emoções haviam destruído não só o seu corpo, mas estagnado o seu coração, o seu afeto, e espalhado fel em torno das criaturas.

Humberto termina a história dizendo: “ao conhecer essa história, pensei: nossos mentores espirituais serão sempre Jehul, mas, quantos de nós, na Terra, não somos eternamente Laio? Temos dentro de nós todos os valores, todas as possibilidades, mas desprezamos tudo em busca de algo que nem nós mesmos sabemos direito o que vem a ser… e perdemos mais de uma encarnação nessa busca que nunca nos levará a lugar algum…”.

Os espíritos nos dizem que, se nós víssemos como ficam nossos mentores, quando fazemos aquelas “bobagens sérias”, nós nunca pensaríamos em fazê-las. Porque, quanto mais nos afastamos do bem, mais adiamos o nosso retorno à espiritualidade de forma feliz. E aqueles que nos amaram com extremado carinho e que se adiantaram no processo evolutivo percebem que ainda vai levar muito tempo para nos reencontrarem em melhor patamar…

Uma amiga noutro dia me dizia: “ah, eu estou muito insegura!… Será que a gente se encontra mesmo, do lado de lá, com quem a gente amou?! Será que eles não saem evoluindo muito rápido e a gente procura, procura, e não acha?!”
Quem já leu dr. Inácio sabe: a gente encontra até os animais que tivemos na Terra!

Eu tive uma cachorra, a Jade, durante 13 anos e meio: ela morreu diabética. Era minha grande amiga! Era a “pessoa” que mais conversava comigo!!! E, com animais, também já vivi curiosas experiências. Por exemplo: tive um gato certa vez, o Juarez. Um gato preto. Gente, ele era de uma “mediunidade” impressionante!!! Quando entrava na minha casa alguém perturbado, ele ia correndo pra debaixo do fogão e não saía de lá nem por decreto! Então e eu já sabia: quando o Juarez ia pra debaixo do fogão, a pessoa não estava bem!…

Quando eu encontrei o Juarez na rua, ele era recém nascido, muito feinho e com um olho furado. Levei-o ao veterinário e dei esse nome para ele. E o veterinário não me iludiu, logo me avisou (vejam o que é a emoção no animal!): “quando ficar bom, ele vai embora, porque ele é gato de rua…”. Eu, que cuidava dele de forma extremada, não acreditei…

Quando eu fiquei grávida da minha filha, a família inteira dizia para mim: “agora você dá o Juarez, porque o gato vai ter ciúmes da criança…”. Mas eu não dei.
E, um dia, quando a minha filha estava com quatro anos, o Juarez não teve dúvidas: pulou a janela (e olha que eu morava no primeiro andar!) e foi-se embora… Depois de seis anos de convivência, ele olhou pra mim, pulou a janela e foi embora!

E vocês acreditam que, uma semana depois, eu escutei um miado lá embaixo… Então eu pensei: “O Juarez, ele voltou!!!”. Desci correndo. E ele estava lá, com uma gata – literalmente! – do lado… Juro por Deus!!! Ele olhou para mim… e nunca mais voltou! Gente, no fundo, no fundo, o obstáculo era eu na vida dele!!! Em uma semana ele arranjou uma gata linda, na rua…

Fez um paralelo com a nossa vida? Pois é. Às vezes, nós aconselhamos as pessoas, não é? Dizemos: “fulano (ou fulana!), não cai nessa… Esse “Juarez” é uma furada…” Mas, quando a gente vê, a pessoa já se apaixonou… Muitas vezes a gente vê que aquilo não vai dar em nada, mas todos os neurônios daquela pessoa, todos os sentimentos… parece que está tudo paralisado! A gente vê, nos parece óbvio, patente, que aquele relacionamento é uma cilada!… Mas a pessoa não enxerga… Mulher apaixonada, então, é um horror: o cara tem os olhos pretos, mas ela enxerga uns grandes olhos verdes!… E você fica olhando, pensando: ”mas será que nós estamos falando da mesma pessoa?!?!”. E não adianta falar nada, porque a mulher apaixonada vai enxergar Paul Newman no alvo de sua paixão. É fatal!!!

Os espíritos nos dizem que muitos de nós temos mania de ajudar quem não quer ser ajudado. E, olhem, é verdade. Você fala, você aconselha, você chega ao extremo… E, quando você diz “vamos ao centro espírita ?”, aí é que a pessoa fica perturbada mesmo: “o quê? Eu, ir a centro?! Eu não estou precisando disso de jeito nenhum!!! Eu resolvo a minha vida, eu administro tudo, pode deixar que está tudo sob controle…”. E esta é aquela pessoa que, muitas vezes, já está à beira mesmo do buraco… Mas vai feliz! Por quê? Porque ela escolheu, ela optou… E, garanto, a maioria nunca volta pra dizer que você tinha razão. Pode engolir seco, se o desatino foi grande demais, mas raras pessoas admitem que foram aconselhadas corretamente mas que optaram pelo processo de hipnose que, muitas vezes, vem do nosso próprio passado.

Muitas vezes reencontramos exatamente aquelas pessoas com relação a quem o mundo inteiro nos avisa que não vai dar certo, que vão nos prejudicar, que não vão nos respeitar, que não vão nos fazer felizes… mas, ainda assim, caímos…

E, pensemos: se nós não somos, por nós mesmos, felizes, não haverá quem possa nos fazer felizes! Mas, nós colocamos no outro a solução, queremos dar ao outro a responsabilidade da nossa felicidade, o que é terrível, principalmente quando nos apaixonamos. Isso não pode acontecer, porque, se o outro resolver que nós não seremos mais a razão da felicidade dele, ele irá partir, com certeza. E, nesse caso, como é que nós vamos ficar?! E é aí que as pessoas começam a ameaçar fazer as piores loucuras. Há até quem dê fim à própria vida.

É também importante pensarmos que as emoções negativas, se cultivadas por longo tempo, podem vir a tornarem-se quais tumores psíquicos a afetarem determinados órgãos físicos nossos, que são mais sensíveis, e o são até pelo processo da reencarnação ou mesmo pela hereditariedade. Inclusive sobre a hereditariedade importa saber que nós não escolhemos pai e mãe à toa! Há determinados conflitos que nós trazemos e que, muitas vezes, só vamos resolver através de distúrbios da nossa matéria. E assim é para que consigamos avançar, tudo vá evoluindo e consigamos expurgar as energias não positivas que, muitas vezes, trazemos de outras vidas. E é óbvio que, a cada nova vida, nosso corpo físico será plasmado com aquilo que a gente já possui.

Certa vez, vi um espírito suicida manifestar-se num grupo mediúnico. Havia muitos lápis para a psicografia em cima da mesa no local, e esse espírito saiu catando, incorporado no médium, os lápis todos e tentando pregá-los no corpo. Os espíritos, então, nos contaram que aquela alma sofredora, que ora se manifestava, havia se atirado na frente de um trem, há bastante tempo. Então, ali, o que ela enxergava não eram os lápis, mas, sim, os pedaços do seu corpo físico. Há 20 anos aquela alma suicida aguardava para ser socorrida, e a única coisa que ela conseguia enxergar, na hipnose do seu último instante embaixo do trem, eram os seus pedaços…

Então a força daquilo que está na nossa cabeça – e em que acreditamos – é tremenda. Ela nos dirige, praticamente.
Às vezes, dormimos com uma preocupação muito grande e, de manhã, acordamos com a idéia de que alguma solução haverá. Não conseguimos nos lembrar diretamente do que nos foi falado, mas, com certeza, os espíritos nos acalmaram. E aí você já acorda, por incrível que pareça, mais esperançoso. E os espíritos também nos dizem que, muitas vezes, por merecimento, pelo mérito do nosso esforço na direção do nosso próprio aperfeiçoamento, temos a oportunidade de, nas horas de sono, reencontrarmos aqueles que foram os nossos afetos de ontem. É quando nos acontecem aqueles sonhos que deixam forte lembrança positiva, quando a gente acorda ótimo, com uma sensação ótima, porque a sensação fica, sem dúvida.

Cada um de nós tem as suas próprias soluções para os problemas, é certo. Mas, em matéria de emoções, os espíritos sempre nos lembram que, ao fazermos as nossas opções, geraremos consequências, energias. Um dia, desencarnados, nós vamos pedir que todos se lembrem de nós com carinho, mas nós não pensamos nisso quando estamos na Terra! Aqui, muitas vezes somos invigilantes, egoístas, invejosos… aqui muitas vezes oprimimos o outro, brigamos, dizemos que “não estamos nem aí para nada nem para ninguém”… Mas, ai de nós se as pessoas só se lembrarem de nós com mágoas, com tristezas… Não nos esqueçamos: enquanto estivermos no corpo, teremos a defesa que a matéria nos dá; mas, uma vez fora do corpo, as lembranças nos atingirão, sobremaneira.

Em “Memórias de um Suicida”, Camillo Castelo Branco, surpreso, na enfermaria onde estava internado, vê um grande visor, espécie de televisão amplificada, onde, de vez em quando, apareciam rostos de pessoas que oravam por seus familiares suicidas, e, para a tristeza dele, ele jamais viu um parente sequer se lembrando dele, nem os empregados, nem as pessoas com quem ele havia convivido… Ali, no entanto, muitas vezes, Camillo viu um grupo de médiuns da Terra reunidos em volta de uma mesa, orando pelas almas suicidas… Essas eram imagens que apareciam num visor do local onde ele estava e, daquele visor, na direção dele, saía uma energia extremamente positiva. Ao orarem, aqueles médiuns vibravam por todas as almas suicidas, e o pensamento as alcançava, onde elas estivessem!

Sobre isso, sei que já aconteceu de as antigas religiões não orarem por suicidas, por crerem, erroneamente, que os suicidas estariam todos condenados ao “inferno”… Divaldo Franco, grande orador espírita, foi muito marcado por isso: quando ele tinha cinco anos, sua irmã, Nair, então com 17, apaixonou-se por um homem que não gostava dela. Por isso ingeriu veneno e matou-se. A mãe de Divaldo, uma senhora muito simples, foi então até a igreja, para pedir ao padre uma missa pela filha. O padre que a atendeu colocou-a porta a fora, alegando que a filha dela estaria no inferno, que ele jamais oraria por ela… Divaldo, então pequenininho, segurou naquele momento a saia da mãe, vislumbrou-lhe a tristeza no olhar, mas não deixou de admirar a fortaleza daquela mulher, que demonstrou toda a sua sabedoria, ao responder ao pároco: “se eu, que sou apenas mãe, falível, perdoei minha filha, porque sei que ela não estava em seu estado normal quando fez aquilo, Deus, então, há de perdoá-la muito mais…”.

Anos depois, Nair apareceu a Divaldo. Dizia-se feliz, porque iria ter nova chance, por meio da reencarnação. Divaldo, então, perguntou-lhe onde ela reencarnaria, porque ele queria ter a alegria de acompanhá-la, ao que ela lhe disse: “na nossa família, não, Divaldo. Porque eu perdi o direito de conviver com esta família, pelo menos por agora, com o meu gesto de suicídio…” E Divaldo ficou admirado ao saber que ela estava feliz, embora lhe relatasse que já sabia que a bênção da reencarnação viria trazendo, para ela, desde a maternidade, incurável câncer de boca, faringe, laringe, esôfago e estômago. Por onde o veneno havia passado, naquele gesto tresloucado do passado, haveria um câncer, para o oportuno resgate.

Nair ficara marcada em seu perispírito pelo gesto do suicídio. Agora, seu corpinho recém-nascido traria a doença, para quitação daquela dívida. Mas, apesar de tudo, Nair estava feliz por poder mergulhar de novo na carne, pois ela sabia que, com o corpo físico, viria o esquecimento, ainda que pequeno, ainda que temporário.

Ainda ontem, uma avó se aproximou de mim e me contou que seu neto, filho do seu filho, nascera com uma deformidade impressionante no rosto e com deficiências tremendas em seu pequeno corpo. Para a surpresa dela, todos, pai e mãe, amam aquela criança. E ela me disse: “Mayse, eu amo tanto essa criança que eu tenho certeza de que é um ser querido que voltou para junto de nós”… No sexto mês de gravidez o problema do bebê fora diagnosticado, mas, quando ele nasceu, o problema mostrou-se muito maior: deformidades nos olhos, na boca… Ele vive com uma sonda, num respiradouro, mas dentro de casa, junto aos pais. E ela ainda me dizia: “ele tem tantos fios no corpo, que eu tenho medo de abraçá-lo!…” .Não sabemos quanto tempo este espírito vai habitar este corpo, nem se a Medicina poderá ajudá-lo a ficar mais tempo, mas, com certeza, é uma criança que, da forma como veio, veio para o carinho desses pais, dessa avó, embora toda a deformidade que aparente.

Às vezes, vemos pessoas que têm dramas, que sofrem doenças terríveis. Mas os espíritos sempre nos dizem: “abençoado seja, porque está no corpo. Fora da matéria estaria em situação muitas vezes muito mais lastimável,,,”. Então sabemos que o mergulho na carne é imprescindível para todos nós.
Há certas ilusões que o estudo da Doutrina nos faz perder. Por exemplo: há pessoas que chegam à casa espírita e logo dizem: “não olha muito para mim, não, porque eu sei que eu não estou bem, deve ter, pelo menos, uns dois obsessores ao meu lado… “. Feliz dessa pessoa!!! Dois?!?! Se são só dois, então poderia ser o presidente de centro!!! Paulo de Tarso, há dois mil anos, já nos dizia: “somos todos observados por uma nuvem de testemunhas invisíveis…”.

A diferença entre nós e essa nuvem de testemunhas à qual Paulo de Tarso se referia é que eles estão fora da matéria e nós estamos dentro do corpo de carne. Amanhã trocaremos de lugar: eles virão para o corpo e nós estaremos lá. Eles e nós, nos dois planos da vida. E nós, quiçá, já com os privilégios de termos as emoções controladas. Aliás, mais que controladas: aperfeiçoadas.
Se você veio numa família que o recebeu com amor, se você teve facilidade para crescer e se desenvolver no corpo, se você foi bafejado pelo sentimento positivo das pessoas que estão à sua volta, aproveite isso o tempo inteiro! E aproveitar é não só manter o seu equilíbrio, mas fazer o bem. O bem que puder.
Os espíritos nos lembram que, às vezes, nós temos uma existência na Terra que vem como um interregno entre a vida que vivemos de loucuras e a nova vida que virá com provas: é como se pudéssemos passar por um período na Terra haurindo forças, ganhando conhecimentos para, então, enfrentar…

Por isso, às vezes, se diz: “nossa, fulano é tão bom, como é que ele passa por essas provas?!”… Com certeza, fora da matéria, antes de mergulhar na carne, essa pessoa se sentiu tão forte que aceitou, em determinados períodos da vida, passar por certas provações. E é em lugares como na casa espírita que buscamos forças para atravessarmos essas fases, que não são, com certeza, as mais fáceis.

Às vezes, nós entramos numa casa espírita sem pensarmos que estamos entrando em um lugar que, 48 horas antes, pelo menos, já foi totalmente energizado para nos receber: as paredes são imantadas… Eu tenho uma amiga já idosa que, todas as vezes em que entramos na casa espírita, me diz: “silêncio agora, Mayse, pois estamos entrando em solo sagrado…”. Tamanha a deferência que ela tem pela casa que, há 50 anos, a acolheu num momento de muita dor.

Aqui, enquanto cantávamos, os espíritos mostravam todos vocês, da platéia, sendo assistidos pelos mentores da casa, por enfermeiros mesmo, que traziam uma ficha de cada um, onde eram feitas anotações. E assim nós somos examinados na cabeça, na nossa área cardíaca, não simplesmente por causa do coração em si ou do cérebro, mas por causa das irradiações, das energias que aglutinamos, positivas ou negativas, por causa das nossas emoções cristalizadas. E o tratamento que a casa espírita nos proporciona, é importante sabermos, começa muito antes de nós chegarmos aqui!…

No dia em que todos os lares forem santuários de amor, as casas religiosas não precisarão mais existir, não serão mais os lugares para se recarregar baterias onde todos nós precisamos ir, de vez em quando. Nesse tempo, todos nós teremos a capacidade de colocar um copo de água na nossa frente, colocar a mão sobre ele, fazer uma prece sentida, tomá-lo e estar curados. Um dia faremos, portas adentro de nossa casa, verdadeiros santuários de amor.

Jesus sabia tanto disso que afirmou: “um dia fareis o que faço e ainda mais!…”. E ainda nos afirmou, de maneira inesquecível: “eis que estou à porta e bato!…”. E houve, certamente que houve, aquele momento, em nossas vidas, não importa se nesta ou se em vidas anteriores, em que já fomos chamados à renovação de atitudes. Definitivamente, precisamos perceber que felicidade é também fazer os outros felizes! Precisamos permitir que o nosso egoísmo diminua, que o nosso orgulho diminua, e, em contrapartida, precisamos permitir que a nossa sinceridade em relação ao outro aumente – não a sinceridade com crueza, água fervente nas plantas, como nos alerta Chico Xavier, mas a beleza de entender e aceitar o outro como ele é, para que ele se faça melhor…

E que diminuam as justificativas, aquelas do tipo “ah, eu não fiz isso por causa daquilo!…” ou “eu não fui feliz por isso”… ou, ainda: “eu não ajudo beltrano por isso…”. Vamos entender que todos os obstáculos são desafios para nossas almas eternas, são motivos de renovação para nós. Renovação e amadurecimento.
E aí eu me lembro da lição da águia. Vocês conhecem?

Quando nascem os filhotes da águia, estes encontram o ninho cheio de flores. A águia torna aquilo, lá no alto das montanhas, tão confortável que os filhotes nascem e se penduram naquela beleza… mas, quando nasce a plumagem, quando a águia percebe que seus filhotes já podem voar, ela não tem dúvidas: leva-os ao alto da mais alta montanha e… joga-os lá de cima! Lição da natureza!

E, é claro, tem sempre aquele filhote que, dentre todos os filhotes, resolve que não vai bater as asas, que aquilo é muito trabalho, gera muito esforço… Quem já não conheceu também uma pessoa assim?! E aí a águia, em seu instinto, é obvio, não deixa o filhote se esborrachar lá embaixo (já imaginaram a carinha do filhote? A mãe vai lá, no último minuto, agarra o filhote, leva-o de volta para o ninho e – está na cara que é assim! – ele, secretamente, vai imaginando: “agora aquele ninho vai ser tudo de bom, de lá ninguém me tira, e ainda sobrou aquele espação, porque todos os outros saíram voando…”. ).

Mas, para a surpresa dele, a águia faz o contrário, como lhe manda o seu instinto: retira todo o conforto que ela havia colocado no ninho e coloca espinhos, os maiores espinhos!…até que aquele filhote que se recusa a crescer não consiga mais se mexer… e, com a dor, não tem jeito: ele sai para voar. E vai em busca de si mesmo.

Pensou naquele filho de 42 anos que voltou para casa e não sai mais do sofá?! Minha amiga, jogue fora o sofá!!!
Porque nós, muitas vezes, somos assim mesmo: enquanto há o conforto nas situações, nós não saímos daquilo, mesmo sabendo o quanto aquilo nos prejudica, o quanto aquilo não nos amadurece, o quanto nos infantiliza… muitas vezes, se a situação, aquela convivência, está apenas confortável, então nós vamos ficando, mesmo que não estejamos crescendo, não estejamos avançando. Por isso é que muitas vezes a dor aparece: porque ela é sempre transformadora. Por isso os espíritos nos dizem: “quando o amor não resolve, a dor resolve rápido”. Quando a gente fica desconfortável, de uma forma ou de outra temos de sair em busca das soluções. Aí é chegada a hora da mudança.

O pai de Irmã Dulce, quando ainda menina, determinou para ela o casamento com o filho de seu melhor amigo. Jovem prometida, Irmã Dulce, andando pelas ruas, viu um grupo de mendigos, portadores de hanseníase, que estavam abandonados. Ela, então, sem ter como levá-los pra casa, porque seu pai não entenderia, arromba a porta de uma casa abandonada, coloca-os lá e sai em busca de ajuda. Ela, uma moça rica e bem vestida, sai em busca de um médico, em busca de alguém que pudesse, junto com ela, ajudar aquelas pessoas. O pai se revolta, porque alguma coisa em seu coração, já ali naquele primeiro episódio, lhe dizia que aquela menina havia encontrado a razão maior do seu destino. E que seguiria por outros caminhos que não os que ele havia prometido para ela.

Anos depois, quando a jovem Dulce já havia tomado o hábito que levaria por toda a existência, então seu pai escreve mais uma vez ao amigo que tinha sido quase sogro da sua filha e lhe diz: “meu caro, quanto à Dulce, estou conformado: ela encontrou um amor muito maior do que eu podia imaginar para ela…” Na verdade, Irmã Dulce havia encontrado em seu coração o amor que todos buscamos: o amor incondicional para todos os corações.

E, aqui na Terra, os médicos que cuidaram da saúde dela e que estão por aí até hoje, no estado da Bahia, sempre dizem que nunca houve explicação científica para o fato de ela ter vivido anos a fio, anos e anos, com apenas meio pulmão! Talvez alguns não saibam, mas o que havia em Dulce – e que a sustentava, certamente – era essa imensa energia transformadora que a fez mudar a própria existência para sempre e a existência de tantas pessoas à sua volta.

Ainda sobre Irmã Dulce, os espíritos nos contam que, uma semana após o seu desencarne, ela então pediu ao dr. Bezerra de Menezes para trabalhar: sentia-se pronta para o trabalho novamente!… Mas o dr. Bezerra então lembrou a ela que contava-se apenas uma semana de seu desenlace, que ela havia trabalhado a vida inteira aqui na Terra… Mas ela lhe respondeu: “mas eu quero o trabalho que o senhor determinar pra mim…”. E o dr. Bezerra de Menezes, aquele espírito amigo de todos nós, lhe disse: “quem sou eu?! Bezerra de Menezes!!! Quem sou eu para determinar algum trabalho para a senhora! Pois escolha o que quiser!”. E os espíritos nos contam que ela então disse: “eu quero um trabalho que ninguém queira!”. E foi trabalhar com as almas suicidas.

E ainda há aquele que trabalha para o bem, aqui na Terra, mas que diz: “ah, mas depois que eu morrer, eu vou é descansar! Vou ficar 200 anos embaixo de uma mangueira, olhando as pessoas passarem para a reencarnação e dizendo: – vão com Deus!!!”… Não se iludam: não faremos isso!!!
Os espíritos ainda nos contam que as pessoas que mais precisam ficar do lado de lá para aprenderem mais são as que mais pedem para reencarnarem logo, porque entendem, enfim, que a Terra é a nossa grande escola, é o nosso hospital, é onde reencontramos o nosso passado para fazermos todo o bem que for possível ao nosso coração.
Por isso que, na noite de hoje, eu queria lembrar, a mim e a todos nós, que não há beleza maior do que este privilégio que temos de saber que voltaremos quantas vezes forem necessárias, para novas existências; que sairemos da morte quantas vezes for preciso, mas que da vida jamais sairemos. Que toda alma que chega para nós, seja para nos ferir ou para nos abençoar, deve ser recebida com todo o respeito, pelo menos.

Queria alertar a todos nós que, um dia, entenderemos que, muitas vezes, quando a vida nos disse “não” era porque, em verdade, ali estava a nossa suprema felicidade. Às vezes a nossa felicidade estava mesmo no não ter, mas ser; no ter tudo contra si, mas saber que Deus vai sempre ao nosso lado. E sempre a nossa felicidade estará em sabermos que Jesus é – e sempre será – o amigo incondicional das nossas almas que veio à Terra para que não nos esqueçamos de sua mensagem: “eu sou o caminho, a verdade e a vida”.

Ninguém mais pode ou poderá dizer o que Jesus disse. Ele, governador da Terra, permitiu que Maria o ensinasse a falar, que José o ensinasse a andar. Ele, que se submeteu, aos 33 anos de idade, à justiça terrível dos homens da Terra, o fez para nos deixar a sua eterna mensagem.
Nosso coração só será realmente feliz e nossos sonhos só se tornarão realidade quando se pautarem pela busca da felicidade para todos. A felicidade verdadeira só virá para nós no dia em que formos mais do que espíritas, no dia em que formos verdadeiros cristãos. No dia em que não mais nos permitirmos dormir tranquilos enquanto soubermos que uma só pessoa na Terra não foi dormir tranquila também. E como ainda são milhões que padecem e sofrem na Terra!…

Mas nós ainda somos muito felizes, porque, numa noite como essa, mansamente estamos aqui reunidos, nós e os irmãos desencarnados, que são cerca de quatro vezes mais que o nosso número, para agradecer a Deus pelas oportunidades todas, para prometer que não perderemos as chances de renovação e para nos lembrarmos de que é preciso amar em todas as circunstâncias, porque jamais lamentaremos não ter dito a alguém uma palavra ferina, jamais lamentaremos não ter sido grosseiros, agressivos.

Muitas vezes pessoas aparentemente felizes aparecem na televisão, nos meios de comunicação, sem respeito algum, dizendo que fazem, que acontecem, porque têm dinheiro e têm posição, mas todos nós prestaremos contas de nós mesmos e do que fizemos de nossas vidas. Quando vemos pessoas, absolutamente loucas, tirarem suas próprias vidas ou a vida dos outros, achando que nunca vão prestar contas daquilo que fizeram, entendemos como é importante acreditarmos que continuaremos vivendo para sempre. Aquilo que doarmos à vida, essa mesma vida, com certeza, nos devolverá.

Aqui e mais à frente, nós seremos sempre o reflexo das nossas atitudes. Portanto, que nossos sentimentos e emoções sejam cada dia mais educados, sublimizados, aperfeiçoados. Que possamos amar, servir, sem nunca desanimar. Era Emmanuel quem dizia a todos os desesperados, verdadeiros loucos, que procuravam Chico Xavier: “ama, serve, perdoa”. Se você não conseguir fazer nada disso, nem amar, nem servir, nem perdoar, busque ao menos compreender o seu próximo. Compreendendo, você vai acertar sempre.

Que Jesus nos abençoe, que nos guarde. Agradeço a vocês pela paciência com que me ouviram na noite de hoje e que, na próxima vez que nos encontrarmos, estejamos ainda melhores do que estamos hoje, porque mais confiantes, mais felizes, fazendo os outros felizes, na certeza absoluta de que, um dia, nos perguntarão não a nossa formação profissional, não do quanto estudamos, não nos perguntarão dos títulos que tínhamos, nem dos amores que enfeixamos à nossa alma, mas do que fizemos de nós mesmos. Que Jesus nos guarde e abençoe hoje e sempre.